Ao escolher Medicina sabia que iria lidar com a dor e o sofrimento de quem fosse me procurar. Decidindo por Psiquiatria, essa dor e esse sofrimento já não eram mais físicos, ainda que muitas vezes assim se apresentassem. Eram manifestações dolorosas e sofridas que brotavam dentro dessas pessoas. Para lidar com isso, teria que sempre estar muito atento ao que era dito pelas palavras, mas também o que contavam as expressões, os olhares, as mãos, os corpos. Tive que apreender a escutar os silêncios e os ruídos que, muitas vezes, não conseguiam ser colocados para fora. Observar o ser humano em uma dimensão maior, ficar atento aos clássicos do Teatro, da Literatura, da Música, do Cinema. E respeitar e ter empatia por quem me procurasse. Colocando minha emoção a serviço do Outro. Enfim, trabalhar como psiquiatra e psicoterapeuta sempre foi dividir sensações e emoções minhas e misturá-las para tentar compreender e ajudar quem estava ali, de alguma forma, sofrendo e pretendendo se aliviar e reaprender a sorrir.
Hoje, tenho uma feliz certeza de que trilhei um caminho para ser um especialista em saúde mental, diagnosticando, tratando, prevenindo e reabilitando diversos tipos de distúrbios. Creio que construí uma sólida experiência em mais de 48 anos nessa estrada. Entendendo que a rocha quando recebe o mar que está em seu entorno não desmancha e nem polui esse oceano. Convivem e se harmonizam. Assim acredito que exerço minha função.